Não há um só mestre em tupi que ensine diferente. Todos afinam no mesmo diapasão. Upanema quer dizer água má, rio imprestável. De U, água, rio, e panema, mau, ruim, imprestável.
Francamente, não é crível ter-se o Upanema como rio imprestável, quando ele possui grande curso, larga faixa irrigatória e uma bacia de 3.500 quilômetros quadrados.
Sempre desconfiei que o nome estivesse errado e com ele, a interpretação do topônimo.
Os filhos do município de Campo Grande do upanema, depois vila do Triunfo e atualmente Augusto Severo, sabem de cor e salteado que o verdadeiro nome, o velho nome popular do rio, é Panema. Panema é chamado assim, nas mais antigas sesmarias, cartas-de-data, licenças eclesiásticas, provisões etc. como prova ainda visível, hoje temos o rio Barra do Panema, no município de Areia Branca e a povoação Paneminha. Do Barra do Upanema diz, com toda justiça, Nestor lima: -
“Não padece dúvida que esse rio chamado Barra do Panema é o antigo curso e barra do rio Upanema.
O rio Panema descoberto e povoado, no interior, ao mesmo tempo que o rio Apodi, e não lhe é inferior, nem na extensão nem no volume das águas”.
Upanema bem pode ser rio imprestável e Panema significa diversamente. Não ignoro que na região amazônica “panema” é sinônimo de infeliz, atoleimado, triste, desastrado. Nós, aqui, no Nordeste, ainda chamamos “impanemado” ao individuo impaludado. Mas nada disto tem que ver com o rio Panema.
Em Tupi dizemos PÉ, querendo expressar caminho, estrada, via. NEMA é adjetivo. Significa sinuoso, curvo, rodeador, volteado. NEMA é escrito com um til sobre a primeira consoante. Como em português só conhecemos o til sobre a vogal, não é possível grafar exatamente. Pronuncia-se NHEMA. Panema é, pois, caminho cheio de curvas, estrada sinuosa. Foi esta imagem que obrigou o índio a dar ao rio Panema o nome Panema.
Em Tupi, o mesmo vocábulo “Panema” serve para Upanema e Ipanema, ambos rios maus.
Dessa forma, o tradicional Panema recebe seus inalienáveis direitos de ser Rio das Curvas ou caminho de voltas em vez do injustíssimo Rio Imprestável.
FONTE: HISTÓRIA DE UPANEMA - SILVA JÚNIOR